Das coisas que estigmatizaram Xavier Dolan, é possível dizer que o uso exagerado de elementos da direção de arte, uso de câmera despreocupado e certa irresponsabilidade ao trabalhar os elementos narrativos de seus roteiros são os itens mais lembrados. O jovem diretor canadense estreou nos cinemas em 2009, com Eu Matei a Minha Mãe, filme vencedor de prêmios no Festival de Cannes, Toronto, Vancouver, dentre outros. Em seguida veio Amores Imaginários (2010), filme fraco, que também chamou a atenção da crítica, mas já dava algumas alcunhas pouco louváveis a Dolan, especialmente por sua tendência de condução pueril de cenas, uma denominação afirmada por uns e refutada por outros.
Como que almejando guinar a sua percepção artística e aprimorar seu estilo, Xavier Dolan decidiu aumentar o tempo de produção entre um filme e outro e, dois anos depois de Amores Imaginários apareceu ele com Laurence Anyways (2012), um filme que conserva muito pouco daquele diretor iniciante e despreocupado e mostra a cara nova de um tema praticamente novo em sua carreira, uma verdadeira metamorfose.

Ao passo que essa transformação acontece, vemos um amadurecimento (ou seria o aparecimento da amargura?) de Alia e sua namorada Fred Belair. O casal é inicialmente mostrado como uma dupla de adolescentes crescidos que vivem uma espécie de conto de fadas particular, uma relação cheia de jogos amorosos, todos eles filmados com um estilo levemente distinto, com câmera inquieta, sob ângulos oblíquos e músicas icônicas de Kim Carnes, The Cure, Celine Dion, Duran Duran, Brahms, Beethoven e Vivaldi. No mote realista de que “toda mudança traz consequências“, Dolan deixa claro que não se trata de uma simples mudança, mas de uma revolução completa, o que intensifica ainda mais os novos rumos dados às vidas dos protagonistas.
É claro que alguns maneirismos aparecem e eu devo dizer que durante a projeção fiquei profundamente incomodado com algumas opções narrativas e mesmo temáticas do diretor, mas a despeito das partes menos inspiradas e do estilo às vezes barroco demais, percebo uma unidade temática e estética tão grande no filme que é impossível classificá-lo como algo menor do que muito bom. O desfecho, que para alguns pareceu explicativo e desnecessário, adiciona um ponto narrativo fixo e emotivo à história, ligando os pontos, demarcando um ciclo. O mesmo acontece para o uso das incríveis metáforas visuais temáticas ou literárias, além das frequentes tiradas inteligentes como a do garotinho sendo atingido pelo Cupido e a piscadela do protagonista, algo que marca a sua personalidade intacta, a despeito de seu exterior diferente.

Laurence Anyways (Canadá, França, 2012)
Direção: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan
Elenco: Melvil Poupaud, Emmanuel Schwartz, Suzanne Clément, Nathalie Baye, Monia Chokri, Susan Almgren, Yves Jacques, Sophie Faucher, Magalie Lépine Blondeau, Catherine Bégin
Duração: 168 min.
Direção: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan
Elenco: Melvil Poupaud, Emmanuel Schwartz, Suzanne Clément, Nathalie Baye, Monia Chokri, Susan Almgren, Yves Jacques, Sophie Faucher, Magalie Lépine Blondeau, Catherine Bégin
Duração: 168 min.
SERVIÇO
Cine Com- Tour (Avenida Tiradentes, 1241 - Londrina)
Sessões: às 16h e às 20h30min
Ingressos: R$12 e R$ 6 (meia)
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